sexta-feira, 15 de abril de 2011

Receita de Inclusão

Essa será uma discussão que estará sempre presente em nossas aulas e que passaremos a observar e nos indagar a cada dia.
Qual a inclusão que se faz nas escolas? É isso mesmo que é incluir? 

Ingredientes:
- 30 a 40 crianças genéricas (isto é, sem rótulos) da mesma faixa etária, ambos os sexos, com habilidades e competências heterogêneas
- 1 a 2 crianças com rótulos catalogados na CID, CIF ou qualquer outra tabela não periódica.
- 1 pacote de apostilas ou livros didáticos pasteurizados (não use produtos in natura que podem atacar os neurônios dos professores)
- 1 pacote de avaliações que sejam rigorosamente idênticas na forma e no conteúdo
- Giz a gosto

Modo de preparação


Pegue todos os ingredientes e coloque num liquidificador da marca "Saladeaula" e bata em alta velocidade por 200 dias letivos, até formar uma pasta completamente homogênea.
Caso, durante o processamento, a massa forme grumos de personalidade, brilhantismo ou atraso, encaminhe o ingrediente resistente para ser dissolvido por um especialista.
Se, mesmo assim, o ingrediente não se adaptar à massa, descarte-o, culpando os fornecedores (da marca PaieMãe) por sua má qualidade ou recomende que seja levado para um liquidificador especial (os melhores são os importados da marca Segregator).
Ao final do processo coe toda a pasta em peneiras de provas locais, regionais, nacionais, internacionais e aeroespaciais. Se você perceber que algum ingrediente corre o risco de não passar na prova e prejudicar o bônus do cozinheiro, sugira que ele fique doente no dia da prova.
Sirva acompanhado de reportagens laudatórias em revistas educação e inclusão.

Descrição da imagem: ilustração de um cozinheiro enfeitando um bolo com creme


Retirado do blogInclusão : ampla, geral e irrestrita

Um comentário:

  1. Essa receita me fez refletir bastante sobre a "inclusão" nas escolas. Tomando como base minha experiência ano passado com uma turma de 3º ano, me vi completamente desnorteada. Alunos com laudos comprovando algum tipo de deficiência, outros visivelmente com deficiência mas sem laudos, todos reunidos em uma mesma sala com alunos ditos normais.
    Como é possível forçar uma situação, de manter alunos que precisam de um apoio além da profª na sala de aula e extra classe, no mesmo ambiente em que a profª não possui nenhuma preparação e equipe multidisciplinar para tal? Foi o que aconteceu comigo, me senti mal por não saber como agir com aqueles alunos e não fazer eles progredirem em nada.
    Essa receita descreve em parte o que eu vivi. O único conforto que tive é que não era obrigada a igualar a turma no sentido de colocar as mesmas atividades. Mas mesmo colocando algo que os alunos deficientes pudessem fazer,algo diferenciado, eu não estava dando conta dessa inclusão a fim de que eles evoluíssem no aprendizado.
    Um professor que tem um compromisso e amor pelo que faz, não termina o ano bem quando pensa no que fez com esses alunos. Por mais que a gente tente dar mais atenção, relação corpo a corpo, não é suficiente.Será mesmo que é tão difícil perceber o que estão fazendo com nossas crianças?

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